terça-feira, 13 de maio de 2008

Lembrando Tim Lopes, na prática do jornalismo

Os jornalistas Tim Lopes, Cristina Guimarães, Renata Lyra, Fabio Fachel, Tyndaro Menezes inscreveram-se definitivamente na história do jornalismo com a conquista do primeiro Prêmio Esso de Jornalismo concedido à televisão. Autores da série de reportagens sobre o tráfico de drogas, das quais três delas, apresentadas no Jornal Nacional (TV-Globo, canal 4, segunda a sexta-feira, 20h30), causaram repercussão em todos os setores sociais.
Produtor e repórter atento, o jornalista Tim Lopes escolhia temas de impacto na formação e comportamento da juventude como alerta para a sociedade e, principalmente para as autoridades, para quem suas reportagens foram e continuam sendo instrumento e subsídios para a busca de soluções contra a violência que assola nossa maravilhosa cidade, cada vez mais ameaçada pela omissão do poder público e pela má vontade política dos nossos representantes.
Sempre mostrando a cara e colocando a vida em risco, em busca da informação consistente, com imagens e dados honestos, as reportagens produzidas por Tim Lopes têm a marca do verdadeiro profissional que exercita sua atividade com dignidade e respeito à profissão e aos colegas e, principalmente, com respeito ao público.

Ser repórter é colocar a vida em risco, por que contraria interesses – mesmo que seja apenas uma natural discordância ensejada pelo livre pensar – sempre provoca reações de toda a ordem. Mas a covardia e o medo nunca devem ser a desculpa para jornalista não exercer sua missão. E, isso não isenta seus patrões de dar as condições de trabalho, e muito menos isenta as autoridades de garantirem, a todo e qualquer o cidadão, o direito à segurança.

Como repórter, Tim Lopes está inserido na galeria dos notáveis, mortos ou vivos, como Audálio Dantas, Joel Silveira, José Louzeiro, Roberto Cabrini, Ricardo Boechat (também premiado este ano), Carlos Heitor Cony, Nahum Sirotsky e Ayrton Baffa, alguns destes seus mestres e/ou ídolos.

Foi office-boy, como se chamava o auxiliar de escritório na época, do Domingo Ilustrado, um jornal dominical, totalmente em cores e impresso em papel couchê, lançado por Samuel Wainer e que Adolfo Bloch patrocinou nove, dez números. O caminho que despertou a vocação do futuro repórter.
Numa de suas saídas, voltou com a notícia de um desastre ali próximo e Wainer mandou que escrevesse o que viu. Texto aprovado de primeira. Samuel mandou assinar. O foca estreante tascou o nome completo e até desconhecido: Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento. Conhecido como Tim por causa do cabelo black moda naquela época, Samuel sugeriu Tim. E o foca optou pelo sobrenome materno: TIM LOPES.


Trabalhou na Fatos&Fotos, Jornal do Brasil, O Globo, Repórter, Isto é, mais de uma vez, em época diferentes, não necessariamente desta ordem, mas em todos deixou a marca contundente de suas reportagens: alertou para a expansão do tráfico no morro em “A radiografia da Mangueira”. Anunciou a chegada do vício da cola aos menores de rua – antes do crack e outras drogas chegarem até elas, – misturando-se com elas e vivendo suas mazelas. Denunciou o privilégio de policiais bandidos nos presídios, como o da Frei Caneca. Mostrou Mariel Mariscot estrebuchando no seu carro, ao levar uma rajada de balas numa rua do Centro do Rio (para uma edição histórica do tablóide Repórter, de Luis Alberto Bittencourt). Mostrou a odisséia dos trabalhadores nos subterrâneos da linha 2 do Metrô. Levado por Luiz Nascimento, fantasiou-se de Papai Noel para o “Fantástico” (Globo,4, domingo, 20h30) e mostrou os sonhos dos miseráveis.

Apontou os focos de violência da cidade, na Central do Brasil, Praça XV e Tiradentes, em reportagens impactantes, como a do rapaz que assalta um casal com um facão, no Campo de Sant’Anna, e que, ameaçado por um taxista armado, foge e é atropelado por um ônibus ao atravessar a Presidente Vargas. Tudo registrado pela mini-câmara escondida na caixa de isopor de picolé, do repórter disfarçado em vendedor ambulante. Entrevistou personalidades como Luiz Carlos Prestes e Carlos Cachaça – que o nomeou “assessor de imprensa particular” , também seus ídolos de toda a existência.

Priorizando a informação, suas implicações sociais, a ética e a imparcialidade, Tim Lopes construiu uma carreira que recebe a admiração dos seus companheiros e chefes – como Evandro Carlos de Andrade, que o devolveu à TV.

Plantou muitas árvores – que garantiam o “pão nosso de cada dia” da família – colocou no ar muita pandorga, jogou muito futebol, participou, aqui, em São Paulo e Nova Iorque, de algumas maratonas (durante uma delas entrevistando o então ministro João Sayad), e corria todas as manhãs na orla mais bela do mundo: Copacabana.
É o Arcanjo da Mangueira que veste a camisa verde-rosa com orgulho e paixão, bairro e morro, onde viveu quase toda a sua infância e juventude, é folião de primeira hora do ”Simpatia é quase amor”; e torcedor do Vasco da Gama e tinha, em Roberto Dinamite, o ídolo do futebol, e jogava pelada com os amigos, como Luis Pimentel.

Fez um filho – Bruno, do primeiro casamento com a escritora Sandra Quintella. Foi “casado” cinco, dez, muitas vezes, com mulheres bonitas e maravilhosas, que procuram a família para falar de saudade, essa doída lembrança, que as tragédias provocam.
Escreveu um livro. Terror Policial (Global Editora/90 págs/1980): compilação das matérias mais contundentes, que ele (no Rio) e Rivaldo Chinem (em Sampa) escreveram na imprensa.
E escreveu, o livro do dia-a-dia da vida urbana e sofrida do povo brasileiro, nas páginas eletrônicas produzidas na Central Globo de Jornalismo, com a disposição de quem começa uma carreira de futuro. Para Tim, a próxima matéria era como se fosse a primeira.