domingo, 19 de abril de 2009

XUXA 2009

A propósito, o quê é aquele figurino que a Xuxa Meneghel usou no seu “novo” programa de sábado, dia 19 abril? Uma calça boca sino (de muito mau gosto) e um capote injustificável para o clima carioca....

Se vier o inverno, que a rainha dos baixinhos espera (!)... Bah, tchê!.... será que era essa a novidade!

sábado, 18 de abril de 2009

Crônica

A bala fez o buraco

1. A Lapa, o mais carioca dos bairros do Rio, completamente revitalizado, recupera a fama boêmia, da qual é berço desde os anos 30, e conquista a mesma efervescência dos locais que concentram grandes estabelecimentos de cultura e diversão noturna. E boemia e malandragem vivem juntas. Naquela época, tinha a malandragem dos que contrariavam a lei, sem cometer crime contra a vida, como Brancura e Baiaco, que eram rufiões, ou como Sete Coroas, que já tinha escrito seu nome na bandidagem desde a Bahia. Sete Coroas ensinou Madame Satã a ser malandro. No bojo dessa efervescência, ressurgiu na nova Lapa o caráter ruim da malandragem daquele tempo em que a violência imperava, conforme as recentes manchetes dos jornais.

2. A violência engoliu aquele malandro carioca, sagaz e sutil, cheio de destreza e lábia, carisma e simpatia, notoriamente o sujeito que utilizava da inteligência e artimanha para lidar com os mais fortes e que acabava sendo aceito porque não causava prejuízos nem moral, nem financeiramente, e muito menos agredia sua "vítima" fisicamente. Uma malandragem carioca que diverte terceiros e serve de alerta para os distraídos ou metidos a espertos.

3. Assim como o jeitinho (instituição criada para ilicitamente tirar vantagem e dar prejuízos à sociedade num todo, como a política das fraudes, o tráfico, as milícias, a pirataria, etc.), o caráter bom da malandragem rende simpatia mesmo diante daqueles que teriam motivos para não aprová-lo. Mas, a concomitância acaba aí.

4. Daquele tempo, vale lembrar, Madame Satã, apelido adotado pelo brigão, homossexual assumido, cozinheiro e quase perpétuo frequentador das prisões, especialmente a da Ilha Grande, José Francisco do Santos. Provavelmente, o primeiro transformista, a Mulata do Balacuxê, do teatro rebolado. Definia-se como "filho de Iansã e Ogum e devoto de Josephine Baker", inventando para si mesmo vários personagens: Jamacy, a Rainha da Floresta, Tubarão, Gato Maracujá.

5. Satã conviveu com os grandes nomes da música popular da época: Chico Alves, Orlando Silva, Nelson Cavaquinho, etc. Conta Ricardo Cravo Albin que "Mulato Bamba", de Noel Rosa, foi feita para ele. Satã foi acusado da morte do genial compositor Geraldo Pereira, autor de "Pisei num despacho" (c/ Elpídio Viana), "Resignação" (c/Arnô Provenzano), "Você está sumindo" (c/ Jorge de Castro) e outras tantas. Satã conta que Geraldo "disse uma porção de desaforos, aí eu perdi a paciência, dei um soco nele, ele caiu com a cabeça no meio-fio e morreu. Mas morreu por desleixo do médico", defende-se Satã, porque foi para a assistência vivo.

6. Satã contabiliza três mil brigas, 29 processos, 19 absolvições, 10 condenações e três homicídios. O primeiro aos 28 anos. Madame conta na entrevista que o pessoal d'O Pasquim fez com ele no Capela, em abril de 1971: "Deram um tiro num guarda civil na esquina do Lavradio e fui preso".
Millôr (Fernandes): Segundo você, injustamente.
Satã: Injustamente.
Sérgio (Cabral, pai): Mas você não deu o tiro no guarda?
Satã: Não, o revólver é que disparou na minha mão, casualmente.
Sérgio: Foi a bala que matou?
Satã: Não, a bala fez o buraco. Quem matou foi Deus.

Texto do livro "Vim ao mundo a passeio", em que registro meus 50 anos como repórter e boêmio.

sábado, 4 de abril de 2009

Alcyr bebe leite, Chopp bebe água


Conheci na noite grande, como diria o poeta, compositor e jornalista Ricardo Galeno, outro não menos compositor, o pianista Alcyr Pires Vermelho, autor de Dá cá o pé louro, com Lamartine Babo, Tic-tac do meu Coração (Walfrido Silva), Laura (João Braguinha de Barro) e, Canta, Brasil (David Nasser). Me surpreendi de saber que ele tocava a noite toda nas boates e não bebia uma gota de álcool, desfazendo uma imagem que eu tinha dos boêmios. Nos intervalos, ele pedia ao bareiro um copo de leite. Ninguém era mais boêmio do que aquele pianista magérrimo, cabelos ralos e brancos, rosto fino, adunco, de óculos, que dedilhava verdadeiros clássicos da música de todos os tempos.

Mais recentemente, conheci outro boêmio que não faz trato de consumo etílico de maneira alguma. É Chopp, oficialmente Sidney Machado, um dos diretores de harmonia da Beija-Flor de Nilópolis. Água mineral é o combustível que move Chopp nas noitadas de samba e farra.

Alcyr e eu

Me surpreendi mais ainda com o salário que o talentoso e simples, consagrado e modesto pianista de nome pomposo recebia como músico. Alcyr tinha muitos fãs importantes, como banqueiros e ministros, que não abriam mão de almoçar, esticar durante o rush, para vê-lo e ouvi-lo dedilhar o seu fiel companheiro de trabalho.

Sugeri ao José Maria Cañedo contratá-lo para tocar no Cassino-Rio durante o almoço e, antes de começar o show Jogo Feito. Encontrei Alcyr num restaurante da rua Ouvidor. Quando o convidei para mudar de endereço é que soube que recebia, pasmem, apenas um salário mínimo. Mesmo antes de saber disso, já havia acertado com Zé Maria, que deveria pagar-lhe algo em torno de três vezes mais. Passei essa informação ao Alcyr. Semana seguinte, conforme combinado, lá estava Alcyr abrilhantando o almoço de um grupo de banqueiros. No final do mês, soube pelo próprio Alcyr que ele abriu mão do salário acertado, em favor da carteira assinada, o que não estava desvinculado do acordo. Tinha sido enrolado pelos sócios, sem a anuência do Zé Maria, mas Alcyr pediu para “deixar quieto”.

Natural de Muriaé, mineiro de poucas palavras, mesmo assim sempre conversávamos muito, talvez porque nos encontrássemos raramente. A temporada de Jogo feito acabou e Alcyr continuou na casa por mais algum tempo. Nunca mais nos encontramos.

Texto do livro "Vim ao mundo a passeio", em que registro meus 50 anos como repórter e boêmio.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Anos 60

Chegando a Cidade Maravilhosa....

Rio de Janeiro, 1961 – Desembarquei na Praça Mauá num sábado de Carnaval lá pelo meio dia. Trazia uma carta com orientações sobre o trajeto – avenidas Rio Branco, Presidente Vargas, Praça da Bandeira, Quinta da Boa Vista – que me levaria ao meu novo destino Visconde de Nictheroy – e mais recomendações sobre os cuidados com o taxista, já àquela época famosos por fazerem “turismo” com os incautos que chegavam à cidade. Informava a carta, o valor aproximado da corrida. Conferi com o motorista quanto teria de pagar. Estava dentro do previsto. Embarquei e comecei a conviver com, até hoje, um dos maiores problemas urbanos cariocas, o trânsito. Ontem como hoje, graças ao desrespeito dos motoristas às leis e, incompetência a parte, a omissão das autoridades. Isso tudo, entretanto, amenizado pelo fascínio de ver a multidão extravasando sua animação pelas ruas, todo mundo fantasiado, como eu só vira nas páginas de O Cruzeiro e nas reportagens do Canal 100, do “cafajeste” e flamenguista Carlinhos Niemeyer. Blocos alegres e barulhentos surgiam de tudo que era canto. Mascarados surpreendendo e brincando com desconhecidos.


Texto para o livro "Vim ao mundo a passeio", comemorativo dos 50 anos de jornalismo do repórter que vos fala