quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Som na caixa....de fósforo!





Prometi um artigo sem refletir sobre minha competência para escrevê-lo. O assunto seria – e é – sobre caixa de fósforos e samba. Os gênios escrevem artigos nas coxas até com qualidade superior aos famosos charutos enrolados nas pernas pelas belas mucamas cubanas, que é como são feitos os bons habanos, iguais aos que Dalva Beltrão me presenteou recentemente. Só os gênios e as cubanas podem escrever artigos e fazer charutos nas coxas. Resultam em preciosidades. Já os faroleiros...
Arrependido ou não, tenho a idiossincracia de enfrentar desafios. E vim à luta para o teclado do PC. Não tratarei o assunto com profundidade, por que ele é mais gostoso pelos aspectos curiosos que envolvem um e outro. Samba e caixa de fósforos e vice-versa. O mote de lancei fora exatamente sobre esse casamento musical.
Aí, logo se citou entre os parceiros do bate-papo, o glorioso Ciro Monteiro. Lembro dele, na televisão ainda preto&branco, cantando “Se acaso Você chegasse”, de Lupicínio Rodrigues, e batucando na altura do rosto a caixa de fósforos, que virou sua marca registrada.
Lupiscínio também tinha intimidade com a caixinha de fósforos. Era instrumento indispensável na hora de mostrar suas composições. Ao contrário do que muitos pensam, o velho Lupe não tocava instrumento algum. Compunha assobiando e fazendo ritmo com uma caixa de fósforos, conta seu filho Lupe que toma conta da casa de show lá de Porto Alegre, batizada com o título daquele sucesso.

Mariana Lacerda manda:

– Preste atenção! Está lá, a percussão dela, uma pequena caixinha de fósforos, em "Amor Proibido", de Cartola na voz de Paulinho da Viola, no disco Bate Outra Vez (Som Livre, 1988). O som vem das mãos de Elton Medeiros, quem tamborila o instrumento.
Um dos especialistas neste ‘instrumento’, Elton Medeiros, que acompanhou na caixinha as divas Elizeth Cardoso, Clementina de Jesus, e os bambas Nélson Sargento e Paulinho da Viola, afirma:
– “Bato caixinha de fósforos porque isso me ajuda a viver. Tudo que faz a gente feliz ajuda a viver, não é?”
E qual é o passo a passo para tocar um samba na caixinha?
– "Ela não deve estar nem cheia nem vazia", recomenda Medeiros. Então toque. Encontre um ritmo. Devagarzinho. Tente acompanhar uma música. Siga. Tente. "Todo mundo tem ritmo", diz Medeiros. Toque. Pois "quem sabe bater caixinha de fósforos provavelmente saberá tocar outros instrumentos de percussão", diz ele, que além de trombone toca bateria e tamborim.
Seu samba-enredo – feito em 1954 para sua Escola de Samba Aprendizes de Lucas –, o Exaltação a São Paulo, foi apresentado pelo cantor Jorge Goulart no programa Um Milhão de Melodias, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Arranjo do maestro Radamés Gnattali, para violino e... caixa-de-fósforos. Esta naturalmente solada por ele.
Somente a criatividade dos sambistas brasileiros poderia recorrer a esse pequeno objeto (48 x 36 x 17mm) e transformá-lo num instrumento musical, aonde quer que falte qualquer outro. Muito especialmente no botequim, quando surge a inspiração.
O caso de amor da caixa de fósforos com a música já têm algumas dezenas de anos. Além do “faça-se à luz”, a caixa de fósforos também faz som. Esse som que vira ritmo, sustenta a harmonia e se integra à história da nossa música.

Daí não pode se dizer que seja exclusividade dos sambistas a adoção da caixa de fósforos como instrumento auxiliar de compasso, percussão ou coisa do gênero. O autor do Xote das Meninas, Zé Dantas pernambucano do Alto do Pajéu nunca estudou música nem sabia tocar qualquer instrumento. Compunha marcando o compasso com o auxílio de uma caixa de fósforos.

Pois é, aí o encontro de compositor e caixa de fósforos acabou em baião.